Relacionamentos saudáveis

Texto: Hebreus 10.25

Nosso desafio durante esse mês será pensar como através da vivência do evangelho em nossos relacionamentos, Deus pode nos usar com poder e graça para que a mensagem da graça seja transmitida.

Introdução:

O crescimento cristão certamente ocorre em nossa relação individual com Deus, mas ele acontece mais facilmente quando compartilhamos nosso viver com outros irmãos em Cristo.

Ao caminharmos juntos, formamos bons relacionamentos que proporcionam cura e crescimento a cada um de nós. Como nos alerta o autor de Hebreus: “Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia.” (Hb 10:25, NVI).

Para que alcancemos relacionamentos saudáveis, precisamos nos dedicar a este objetivo. Confiantes de que todos estarão empenhados nesta busca pelo crescimento, vamos começar aprendendo a nos relacionar melhor.

Nesta série de estudos, buscaremos bases bíblicas e apresentaremos sugestões para construir e/ou aprofundar algumas práticas essenciais a relacionamentos saudáveis.
São elas: a intimidade e a confiança (estudo 1), o cuidado mútuo (estudo 2), a humildade (estudo 3), a admoestação (estudo 4).

Por incrível que pareça, o Novo Testamento fala muito mais sobre comunhão do que de evangelismo. Normalmente, uma pessoa decide-se por uma igreja pela acolhida que lhe é dada. Ninguém consegue ficar em uma igreja onde não faz amizades. O cristianismo é, sobretudo, relacionamento. E a amizade é a maior ponte para o evangelismo. O que desejamos nesses dias é desenvolver nossos próprios relacionamentos para que sejamos como uma grande rede lançada no mar desse mundo, uma rede na qual os peixes fiquem presos pelos nós da amizade.

Foi justamente isto que o apóstolo Paulo destacou em sua oração e orientação para os cristãos:
“O Deus que concede perseverança e ânimo dê-lhes um espírito de unidade, segundo Cristo Jesus, para que com um só coração e uma só voz vocês glorifiquem ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, aceitem-se uns aos outros, da mesma forma que Cristo os aceitou, a fim de que vocês glorifiquem a Deus. ” (Romanos 15:5-7, NVI).

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1) Através do Acolhimento

Como povo latino, nós gostamos de uma boa prosa. Queremos emitir opiniões, contar histórias, compartilhar experiências. Não é preciso muito incentivo para que um brasileiro ofereça aos ouvintes que o cercam algumas de suas narrativas pessoais.

Entretanto, são raros os que se dispõem a ouvir o próximo e a tentar conhecê-lo melhor por meio daquilo que compartilha. Muitos anseiam por uma chance de serem ouvidos, por um momento onde se sintam acolhidos.

É preciso desenvolver intimidade e confiança mútua, mas isto não acontece da noite para o dia. É um processo que progride lentamente na medida em que nos desarmamos e baixamos as barreiras de proteção que construímos ao longo da vida.
Em síntese, tudo começa com a disposição para acolher o outro tal como ele é.

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2) Através da unidade:

Fonte: Perceba também que, embora buscar a unidade seja nosso papel como igreja, ela só vem como dádiva de Deus (v.5, “Deus … dê-lhes…”). Deus é o único que pode promover uma genuína unidade entre nós, pois somos muito egoístas para abrirmos mão de nossas opiniões e gostos. Precisamos da transformação diária do Espírito Santo de Deus para vivermos em unidade.

Parâmetro: Além do mais, esta unidade é “segundo Cristo Jesus” (v.5). Unidade cristã é unidade em Cristo. Parece evidente, mas não é. Nossa unidade não tem que ser fruto da rígida adesão a um sistema de doutrinas ou de usos e costumes.
Somos unidos como cristãos por causa de uma pessoa: Jesus. Ele é o nosso Senhor e nós somos suas ovelhas. É ele quem determina o que devemos pensar e fazer. Ele é o parâmetro para a nossa verdadeira unidade.
Unidade baseada em outros critérios, pois, não é genuína unidade cristã.
Obviamente, isto não quer dizer que não existem diferenças entre os sistemas de doutrinas dos diversos grupos cristãos. Embora todas as ovelhas sigam o mesmo Pastor, as ovelhas se agrupam em currais diferentes por diversos fatores. Assim, para participar de um determinado “curral”, é preciso aceitar as regras do grupo.

Produto: E o que Deus quer nos dar é uma harmonia genuína que se manifesta tanto internamente (“um só coração”, v.6) como externamente (“uma só voz”). Ao gerar em nós uma mesma paixão, Deus nos leva a termos um mesmo discurso de glorificação ao seu nome.

De novo, não é um mesmo discurso em todas as áreas. O produto da genuína unidade é a busca constante de glorificar ao Pai em uma só voz.

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3) Quando aceitamos o outro

Por isso tudo que foi exposto até agora, após sua oração Paulo exorta os leitores a se aceitarem uns aos outros (v.7). O verbo aqui usado tem o sentido neste texto de “acolher em sua própria casa ou em seu círculo íntimo” (Paulo também o usa em Rm 14:1 e 3).

Para haver unidade, precisamos quebrar as barreiras que nos separam e recebermos os irmãos como amigos. Mas, veja bem, esta aceitação mútua não ocorre porque os outros membros da igreja são naturalmente agradáveis ou atraentes, e sim porque Cristo já nos aceitou.

Nós os acolhemos “da mesma forma que Cristo os aceitou” (v.7).
Se você compreende que Jesus morreu em seu lugar e aceitou você do jeito que você é (Rm 5:8), quando você ainda era seu inimigo (Rm 5:10), como não aceitar as poucas falhas dos que estão ao seu redor?

Portanto, embora certas características das pessoas colaborem (ou não) para um entrosamento mais fácil, o padrão bíblico para os relacionamentos é o amor ágape, o qual supera as personalidades desagradáveis e os costumes diferentes.

É isto que nos leva a aceitarmos o próximo, imitando o que Jesus já fez por nós. Finalmente, observe mais uma vez que o objetivo de nos aceitarmos uns aos outros é para que glorifiquemos a Deus, propósito maior para o qual fomos criados.

Exemplos práticos
Veja a seguir alguns exemplos bíblicos de acolhimento e aceitação.

Acolhendo o perseguidor
Paulo certamente podia falar sobre aceitação de experiência própria. Quando ele reconheceu Jesus como seu Senhor, na estrada de Damasco (Atos 9:1-9), Paulo foi rejeitado abertamente pelos cristãos de Jerusalém (At 9:26).
Eles não acreditavam que o grande perseguidor da igreja tivesse realmente se convertido. Talvez fosse um estratagema para se infiltrar entre eles e levá-los para a prisão!
Foi Barnabé quem tomou a iniciativa de acolhê-lo (At 9:27), de acreditar nele e de apresentá-lo aos apóstolos. Certamente para isto teve que investir um bom tempo andando com Paulo.

Acolhendo os desamparados
Um outro exemplo vem de Atos 28. Após um violento naufrágio, diz Lucas (autor de Atos): “Os habitantes da ilha mostraram extraordinária bondade para conosco. Fizeram uma fogueira e receberam bem a todos nós, pois estava chovendo e fazia frio. ” (v.2, “receber” é o mesmo verbo de Rm 15:17).
Embora não fossem cristãos, os habitantes daquela ilha acolheram aqueles náufragos em sua calamidade.

Acolhendo aquele que errou
Um exemplo final vem da situação de Onésimo, escravo que tinha fugido de seu patrão Filemon. Paulo escreve a seu amigo Filemon para lhe contar que Onésimo havia se convertido, se arrependera de seu erro, e estava sendo enviado de volta para Filemon.
Filemon deveria recebê-lo (Fm 17, mesmo verbo de Rm 15:7) como se fora o próprio Paulo!

Conclusão: O nosso desafio é compartilhar o reino de Deus e para tanto é necessário estabelecer relacionamentos saudáveis acolhendo as pessoas em amor, viver em unidade e aprender a aceitar e ajudar as pessoas a se comprometerem com o reino de Deus.